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Paula Andrada

Equilibrista

Atualizado: 8 de ago.

 

 “Passei minha vida equilibrando pratos, sem deixar a peteca cair". Quando eu ouvia essa frase, não entendia como alguém poderia passar a vida assim. Somente mais tarde, fui entender tão interessante metáfora.


Compreendi que todos nós somos equilibristas de nossas próprias escolhas. Se falar da mulher e de seu papel na sociedade é piegas, dizer da vida da mulher contemporânea não é tarefa das mais fáceis e se torna uma equação complexa e inexata _ porque a mulher vive um desafio constante e preciso: o do equilíbrio.


equilibrista

Mas, se equilibrar um monte de desejos torna-se quase impossível, temos que aceitar esse estágio de busca feminina com mais leveza e compreender essa mulher de nossos tempos.


E para isso, não precisamos ir longe. Basta andarmos pelas ruas e depararemos com os mais diversos modelos de uma mulher equilibrista em cenas de sua vida cotidiana. Não é raro ver um ser dotado do sexo feminino empurrando um carrinho no supermercado, falando ao celular e fazendo sinal para falar com vendedor. 


Não é raro ainda chegar em casa e fazer, sem perceber, cinco coisas ao mesmo tempo: comer, vestir, monitorar tarefas escolares, resolver pendências do trabalho e, ainda, tentar fazer uma caminhada de, pelo menos 30 eternos minutos.


  Há ainda aquele programa que você queria muito assistir, um filme que você anotou e ainda não saiu do papel, uma amiga a quem deve uma visita e aquela viagem que prometeu pesquisar.


Ah! Não podemos esquecer da visita ao ginecologista, do curso de culinária ou pintura, que tanto atrai e que te faz sonhar em passar uma tarde inteira fazendo um bolo ou pintando paisagens numa tentativa quase inconsciente de se permitir deixar a peteca cair e os pratos também.


De vez em quando, dá vontade de jogar o guarda-roupa no chão. E temos raiva de perceber, que apesar de incomodar, um salto alto tem o poder imediato de nos levar às alturas. E repetimos a frase: "estou sem roupas, preciso de sapatos".


Somos capazes até de comprar um par deles em número menor ou maior, caso só estes estejam disponíveis numa loja. Tudo por uma paixão inegociável.


Temos listinhas de anotações e pendências nas quais seguem itens como plano de ir ao grupo de meditação, de ter horário fixo na manicure, de participar de um trabalho voluntário e, ainda, aquela sexta-feira que você planejou só para você. A sexta-feira de um calendário lendário.


E assim somos cheias de faces. Ora puramente doméstica, ora informacional, ora telepática, ora desesperada, ora racional, ora múltipla. O preço dessa multiplicidade é a querência impetuosa de manter tudo sob controle, num utópico equilíbrio mental feminino.


Em nossa alucinada e feliz rotina, não abandonamos a frenética ansiedade de achar que vamos dar conta de tudo, mesmo sabendo que não vamos conseguir nos manter sempre em equilíbrio, equilibrantes e equilibradas.


A peteca e os pratos podem, sim, cair no chão. A sabedoria está em nos permitir "desequilibrar", para que não fiquemos totalmente desequilibradas.

 

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✨ Paula Andrada


Mulher, escritora e eterna equilibrista da vida. Apaixonada por traduzir em palavras os desafios e encantos do cotidiano feminino, acredita que, às vezes, é preciso deixar um prato cair para descobrir o sabor da leveza.



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